segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Neologismo semântico

A língua, concebida como um sistema estritamente social, revela todo o seu dinamismo ao se caracterizar como sendo um processo que está em constante transformação, permitindo que seus usuários a usufrua não somente como forma de representação do pensamento e ação, mas também como forma de se interagirem com o “outro”, fortalecendo assim suas relações interpessoais como um todo. 

E, por assim dizer, há que se mencionar que tal transformação está condicionada à própria evolução social a que os usuários estão submetidos, em se tratando das variações sociolinguísticas, mais precisamente a histórica. Fato perceptível quando nos atemos à palavra “você”, fruto de inúmeras acepções antes assumidas, evidenciadas por: vosmeçê – você – cê - vc.... 

Aqui, de forma específica, há um outro caso que representa este caráter dinâmico da linguagem – o fato de as pessoas, usualmente, atribuírem a determinadas palavras outros significados, diferentes do convencional, sem que para isso haja nenhum processo formal. Esta formalidade está relacionada ao dicionário, posto que à medida que os vocábulos vão se incorporando no dia a dia dos usuários, estes podem se tornar dicionarizados – assim como tantos outros. 

Contudo, independentemente de estarem formalizados ou não, o fato é que estes fenômenos existem e, para tanto, são passíveis de conhecimento. Assim sendo, no intuito de compreendermos melhor acerca desta ocorrência, analisemos um típico exemplo de neologismo semântico, representado pelo vocábulo “arara”:

Nossa! O chefe ficou uma arara quando soube dos últimos acontecimentos.
Atendo-nos a uma análise acerca do “real” significado a que se refere o termo em destaque, notamos que se trata de um pássaro. No entanto, de acordo com o contexto em que se dá a comunicação e, sobretudo, levando-se em consideração o objetivo pretendido pelo emissor, percebemos que a expressão se relaciona a uma atitude humana, a um determinado posicionamento adquirido pelo sujeito que pratica a ação. 

Casos semelhantes a este também tendem a se materializar, perceptíveis em: 

Não sei como aquela garota se presta a este papelão, pois parecia ser tão idônea!
O termo em evidência, tomado em seu sentido convencional, se atém a um papel grosso, dotado de uma estrutura rígida. Entretanto, assume o significado de algo ligado a uma conduta vergonhosa, desprezível. 

Em virtude de um ato ilícito – ao fazer um gato - o inquilino foi multado.
Neste contexto, “gato” representa uma ligação direta da fiação elétrica, a qual, além de ser considerada perigosa, ainda constitui uma infração, pois o cliente abstém de pagar encargos que lhe são obrigatórios. Ao passo que o verdadeiro significado se caracteriza pela figura de um animal. 

Com base nestes pressupostos, reafirmamos quão tamanha é a influência que a língua exerce sobre as relações sociais, uma vez considerada como um reflexo da cultura que incide diretamente nas manifestações de pensamentos e ideias, tendo em vista não somente o conhecimento que o falante tem de seu funcionamento (leis combinatórias e vocabulário), como também o contexto em que se efetiva o discurso ora proferido.

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